Saturday, December 26, 2009

Minh'Alma

7

Meu alvoroço de oiro e lua
Tinha por fim que transbordar...
- Caiu-me a Alma ao meio da rua,
E não a posso ir apanhar!

Mário de Sá Carneiro, Sete Canções de Declínio, in no lado esquerdo da alma


Apanha-a!



Trata-a bem, com carinho, faz-lhe festinhas na cara, passando-lhe com os dedos, dengosos, pelo nariz e pelos lábios. Sente a respiração profunda, o bater do coração dessa Alma-menina perdida.
Beijinhos, ternurentos, muitos, molhados, no pescoço, no peito, na barriga...
Desenha-lhe uma flor no verso do corpo, com pétalas de confiança e centro de paixão.
Deixa-a adormecer enrolada em ti, nos teus braços, feliz e aconchegada, após horas de desabafo.



Depois... devolve-ma!

Wednesday, December 09, 2009

Respiremos fundo.

"Pensei que ficando do lado de fora da vida conseguiria agarrar a dor pelas costas e matá-la."

Inês Pedrosa IN A Eternidade e o Desejo


Eu nunca vivi - se é que se pode utilizar o termo «viver» quando se está do lado de fora da acção - do modo descrito acima, tão resumida e claramente, pela minha acérrima Inês Pedrosa (Avé!). Orgulho-me de jamais ter fugido do rumo que dei, mais ou menos acertadamente, à minha vida, lidando com as consequências dos meus actos, das minhas posições, das minhas paixões. Estas últimas, particularmente, trouxeram-me bastantes momentos que terei forçosamente de classificar de MAUS momentos. Quando falo em paixões, falo no sentido lato e ambicioso do termo, abarcando a dança, a ginástica, a música, a literatura, as artes plásticas, bem como as pessoas por quem fui - e também as por quem ainda sou - realmente APAIXONADA.
Posso referir as lesões irreversíveis resultantes da prática de ballet clássico e moderno e de ginástica, a frustração e indignação que sentia quando alguém duvidava acerca da autoria dos meus textos, e claro, o que doeu e sempre doerá mais, a infelicidade cortante das amizades não correspondidas ou pouco respeitadas das quais já falei que chegasse neste blog.

Mas, ao fim de contas, o que importa é que EU VIVI tudo isso, eu experimentei todos esses sentimentos, pelo que os seus antagonistas, que em suma se fazem representar pela FELICIDADE, são muito mais apreciados por mim do que, possivelmente, por outras pessoas que tenham fugido do que realmente amavam para não sofrerem quando esse amor se lhes fosse arrancado ou simplesmente se desvanecesse.
Como já vou sabendo quais os contornos do que se sente quando se está INFELIZ - note-se, apenas os contornos! - apercebo-me talvez mais prontamente de episódios, acontecimentos, atitudes, etc, que possam pôr em risco a minha tão estimada felicidade. E ultimamente esses pequenos nadas têm sido relativamente abundantes, espreitando ao longo do meu dia-a-dia... O que me tem ASSUSTADO DE MORTE.
Eu não posso voltar a passar pela angústia constante do meu 10º ano. Não sei até que ponto estarei pronta para aguentar uma queda tão grande. Eu sei que já se passaram uns anos, mas ainda estou frágil, e o ano passado foi tão bom... Uma pessoa habitua-se facilmente ao que é bom!

Hoje nem notei muito tais incidentes, espero que seja um sinal de que a tal panóplia de ocorrências foi apenas uma fase atribulada que já terminou. Espero!

Está mais do que provado que nós realmente GOSTAMOS MUITO UNS DOS OUTROS, vamos nutrir este carinho que sentimos com gestos e palavras bonitas, meus queridos? Vá, não tomemos as coisas por garantidas que essa atitude nunca traz nada de bom!

Ao pessoal original, um bem-haja! ;)

Saturday, December 05, 2009

IV ICTUNAS


Foi... Grandioso!



"Estamos juntas nesta noite e na próxima também
Queremos é jantas regadas e ensaios que rendam bem
Vamos dar-vos música de ouvir e pedir mais
Mas esqueçamos a modéstia porque somos…artistas bestiais "

Friday, November 20, 2009

A Incompatibilidade da Semelhança.

Asleep is the safest place you could be
You can try hard to catch it, it just catches you
Imagine a camera coming up from your feet
Relax all your muscles son, just hope your heart's in one piece


Biffy Clyro - As Dust Dances



Relaxa. Deixa-te ir. Não planeies.
Não penses demasiado no que te acontece, porque vais acabar por pensar no que, efectivamente, não te aconteceu, recriando na tua imaginação uma realidade paralela com muito pouco de real. Vive e tenta não reviver incansavelmente, independentemente do carácter dos momentos, bons ou maus, já passaram. Aprende com os erros dos outros... Aprende com os meus erros!

Admira-te com a semelhança, ri-te com a incompatibilidade que desta resulta e, tal como me disseste, "aproveita"!



Tentemos, no entanto, keep our hearts in one piece.

Tuesday, October 13, 2009

Agradecimentos

You could be my unintended choice
To live my life extended
You could be the one i'll always love

You could be the one who listens to my deepest inquisitions
You could be the one i'll always love



Unintended - Muse



Mas não queres.

Não queres ouvir, não queres falar... De um momento para o outro deixaste de querer o que quer que fosse que se relacionasse comigo. Penso que o encanto nascido de uma primeira impressão favorável desapareceu, e quanto a isso nada posso fazer. Não me resta outra opção que não a de aceitar a tua ausência na minha vida.

Tenho pena de ter chegado até ao ponto de caramelo. Saltaste a fronteira entre o bonito-e-interessante para o lado do até-gosto-de-ti. O que vale é que ficaste por aí...

Na realidade, devo agradecer-te... Foste a primeira pessoa que me despertou algum interesse a nível sentimental desde há muito, mas mesmo muito, tempo. Agora, acredito plenamente que já ultrapassei a minha obsessão chamada Nuno - deixou de haver razão para não referir nomes há muito tempo -, o que já era quase certo, mas ficou finalmente "sentimentalmente aprovado".
No entanto, a tua presença terá sido mais relevante para me assegurar que ainda sou capaz de baixar as defesas a um homem potencialmente interessante a diversos níveis, ajudando-me a ter fé na minha capacidade de me apaixonar, enquanto esta não se revela.

Andar a "saltitar" durante um ano fez parte do processo de cura, além de ter sido bom, claro, mas já chega. No final de contas, I'M A LADY! from the moon...

Sunday, October 04, 2009

Porque sim.

"Ninguém pode dar-lhe conselhos ou ajudá-lo, ninguém. Há um único meio. Entre dentro de si. Procure o motivo que o faz escrever; examine se ele tem raízes até ao lugar mais fundo do seu coração, confesse a si mesmo se viria a morrer no caso de escrever lhe ser vedado. Isto antes de mais nada: pergunte-se na hora mais calada da sua noite: tenho de escrever? Escave em si mesmo em busca de uma resposta profunda. E se esta soar afirmativamente, se o senhor tiver de enfrentar esta questão séria com um forte e simples: sim, tenho, então construa a sua vida em função dessa necessidade; a sua vida terá de ser um sinal e um testemunho desse impulso até nas horas mais indiferentes e insignificantes."

Rilke, Rainer Maria, Cartas a um jovem poeta, Porto, Edições Asa, 2002 (p.24)



Perguntar a alguém o porquê de escrever é completamente descabido. A única resposta possível será um grande, redondo e redundante PORQUE SIM.
Se o escritor inquirido responder que é libertador, que o papel é um amigo com o qual é fácil desabafar; ou ainda não se apercebeu da dura (?) realidade, ou está simplesmente a ser piedoso. Claro que pode também ter vergonha. Vergonha de ser um viciado. Sim, a escrita é, no seu âmago, uma droga. Falo daquela escrita vomitada, arrancada da alma, resultante do impulso incontrolável de agarrar na caneta ou de martelar o teclado, que consome o escritor até às vísceras da sua efemeridade e até às profundezas da sua almejada eternidade.

Pode não ser a melhor altura, nem o melhor lugar, mas quando corpo e alma são percorridos pelo choque doloroso de suor e raiva, indicador de ressaca, nasce, cresce e explode dentro do dependente um grito desesperado que o desprove de todos os seus sentidos e o paralisa: TENHO QUE ESCREVER.

Então, nem que seja com um lápis do IKEA, sobre um guardanapo do café...ele escreve.

No fim, respira fundo, relaxa, e curte a moca.

Sunday, September 27, 2009

Voou

Sentes que um tempo acabou

Primavera da flor adormecida

Qualquer coisa que não volta, que voou

E foi um triunfar na tua Vida.


Porque quando berram "CALOIRADA!!" eu ainda estremeço e olho.

Sunday, September 20, 2009

Ainda pode descer

Estive há dez minutos atrás na varanda do meu quinto andar, a observar a cúpula invisível entre o céu e o enorme lego de betão e a sentir-me um inquilino passageiro desta pensão de duas estrelas perdida na imensa cidade negra a que damos o nome de universo.
Curiosamente parece que é o único sítio que temos para passar a longa noite que nos espera.
E é aí que eu saio para apanhar a frequência. No meu prisma, a encaixar, provavelmente no de outros feito um filósofo de merda.
Mas a vida é isso mesmo, um monte de gente a fazer de conta que se entende e ninguém sabe dizer o que viveu.
Por isso nos pedem que caminhemos alegres para o precipício sem questionar, porque estaremos sempre longe. Mas longe rapidamente fica perto e perto passa por nós. Eu não quero mandar-te para baixo, mas eu sei que me entendes, tu também tens medo de morrer, toda a gente tem. Só que normalmente inventamos montes de problemas para nos convencermos que estamos ocupados a resolver uma situação importante quando não tem importância nenhuma.
Entretanto o tapete rola e nós irritamo-nos com a nossa inevitabilidade, e nos nossos sonhos dizemos: - Torna-me imortal! Torna-me imortal! Eu não vou aguentar deixar de existir!
E é aí que eu entro para sair da frequência, seduzir-te com os meus sonhos, tu não vês como empreendo? E como eu mais um milhão de sonhadores leva com ele muitos braços de outros, acéfalos, na lotaria dos ideais, descrentes, beijando o número do bilhete.
Mas quero dizer-te que a viagem é tua, não quero empurrar-te à força para a rua.
Se eu falhar vou passar de deus a carrasco, embalsamado e metido dentro de um frasco, para te lembrares da mentira, mas a verdade é que ganhamos sempre.

Foge foge bandido





A importância do que nos vai acontecendo e do que fazemos acontecer é ilógica e fortemente condicionada pela dimensão social que nos envolve. Por exemplo, porque carga d'água é que um sonho estúpido que tive lá para os meus 8 anos, no qual figuravam piratas que queriam roubar as minhas cassetes de vídeo da Disney me marcou tanto? Porque é que ainda me lembro daquilo? Por outro lado, porque é que não guardo a mínima recordação do dia em que entrei para o ballet? Lembramo-nos de coisas tão estranhas e que julgamos de pouca pertinência no decorrer da nossa vida, enquanto nos esquecemos de momentos que julgamos definidores da nossa identidade.
A questão que se coloca é até que ponto podemos fazer este julgamento, esta separação entre momentos-chave da nossa vida e momentos banais. Uma situação que julgamos banal pode ser de extrema importância e após todos estes anos não conseguirmos - ainda não conseguirmos - ver porquê.

Por isso, talvez, aquele dia, aquela noite, não tenha sido um momento-chave. Talvez não tenha sido um ponto de escolha de um caminho entre os vários que o emaranhado do destino me oferecia.

Espero que não.

Saturday, August 29, 2009

"Se eu largar eu sinto a sua falta
Se eu agarro ela perde a cor"


Borboleta - Foge foge bandido


As borboletas irritam-me. Esvoaçam feitas parvas ao comando do seu cérebro raquítico sem saberem o quão invejadas são por poderem voar, e ainda por cima de uma maneira tão descontraída, tão leve (ou pesada), sem regra e sem destino... Não reparam sequer na enorme devoção e contemplação dos seus admiradores, sempre atentos às suas cores, à sua delicadeza, ansiando por uma suposta serenidade que lhes fora prometida.
Os únicos insectos vistos com agrado e frequência nos contos de fadas - outra coisa que me irrita solenemente - são tão bonitos e tão frágeis como as próprias princesas acéfalas que ficam cegas de amor com um simples olhar e que esquecem qualquer mágoa graças ao príncipe encantado... Graças a um homem! Poupem-me...
A fragilidade perturba-me. Não se pode soprar, não se pode tocar na borboleta. Mas também não se pode deixar a pobre solta, sujeita a todas as intempéries, além de que o observador egoísta quer toda a delicadeza, toda a leveza, toda a beleza...só para ele. O problema é que ao prende-la e posteriormente submete-la a uma análise exaustiva, à lente da lupa, se vê que na realidade o tal ser encantador não passa de um insecto nojento. Aquele bicho parado e aumentado deixa de ser uma borboleta.

O bicho só é borboleta quando livre.
Deixa de o ser no momento em que a beijamos. No momento em que a desejamos. No momento em que a tentamos guardar.

Assim sendo: não se pode amar a borboleta.



Cortem-me as asas.

Tuesday, August 18, 2009

Co-sentimento

"Em todas as línguas derivadas do latim, a palavra compaixão forma-se com o prefixo «com» e a raiz «passio» que, na sua origem, significa sofrimento. Noutras línguas, como, por exemplo, em checo, em polaco, em alemão, em sueco, a palavra traduz-se por um substantivo formado por um prefixo equivalente seguido da palavra «sentimento» (em checo: sou-cit; em polaco: wspol-czucie; em alemão: mit-gefuhl; em sueco: med-kansla).
Nas línguas derivadas do latim, a palavra compaixão significa que ninguém pode ficar indiferente ao sofrimento de outrem; ou, de outra maneira: sente-se sempre simpatia por quem sofre. Outra palavra que tem mais ou menos o mesmo sentido, e que é piedade (em inglês pity, em italiano pietà, etc.), chega até a sugerir uma espécie de indulgência para com o ser que sofre. Ter piedade de uma mulher é sermos mais favorecidos do que ela, é inclinarmo-nos, baixarmo-nos até ela.
Por isso é que a palavra compaixão inspira geralmente uma certa desconfiança; designa um sentimento considerado como de segunda ordem e que não tem grande coisa a ver com o amor. Amar alguém por compaixão é de facto não amar essa pessoa.
Nas línguas em que a palavra compaixão não se forma com a raiz «passio = sofrimento» mas com o substantivo «sentimento», a palavra é empregue mais ou menos no mesmo sentido, mas dificilmente se pode dizer que designa um sentimento mau ou medíocre. A força secreta da sua etimologia banha a palavra de uma outra luz e dá-lhe um sentido mais lato: ter compaixão (co-sentimento) é poder viver com o outro não só a sua infelicidade mas sentir também todos os seus outros sentimentos: alegria, angústia, felicidade, dor. Esta compaixão (no sentido de soucit, wspolczucie, mitgefuhl, medkansla) designa, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afectiva, ou seja, a arte da telepatia das emoções. Na hierarquia dos sentimentos, é o sentimento supremo."

Milan Kundera in A insustentável leveza do ser



Grande fardo esta compaixão checa, tão pouco latina.
Grande peso, responsabilidade, nervoso miúdo...amiúde graúdo.
Grande experiência.
Grande vivência.
Grande a vida de quem a sente.

Guardem esse sentimento dilacerante. Mantenham-no. Riam-no e sofram-no. Alimentem-no com carinho e lágrimas.
Sobreponham Kundera a Ricardo Reis.



Ámen

Friday, August 07, 2009

Ruidosamente tua.

"(...) Muitas pessoas falam sobre a sua personalidade em termos inequívocos e delimitadores: «eu sou muito assim ou assado». Eu sou franco; eu sou sincero; eu sou introvertido ou extrovertido. Não se calam com isto.
Já ouvi alguém dizer «eu sou a pessoa mais humilde do mundo», o que me coloca duas questões. A primeira é saber se uma pessoa verdadeiramente humilde poderia sequer descrever-se como humilde. A segunda questão invalida até, de certo modo, a primeira: é saber se alguém - qualquer pessoa - pode ser «verdadeiramente» humilde - ou outra coisa qualquer.
Verdadeiramente, a questão é saber se alguém pode ser «verdadeiramente» alguma coisa apenas.
(...)
Não há ninguém, julgo eu, que nunca tenha ouvido isto. «estou à procura daquilo que verdadeiramente quero». Esta frase toma como ponto de partida que existe algo que eu quero mas que ainda não sei o que é. Que esse algo pode - e deve - ser encontrado. E sugere que esse algo está numa localização precisa, um qualquer algures, provavelmente dentro de mim, e certamente à espera de ser encontrado.
Nunca partimos de outro princípio, que manifestamente é também possível: o de que não sabemos o que verdadeiramente queremos porque talvez não queiramos verdadeiramente algo; o de que se esse algo existisse já o saberíamos perfeitamente desde o começo; que procurar esse algo é talvez tão inútil como esperar que ele chegue por acaso até nós; que ao invés de existir esse algo dentro de nós existe antes uma multiplicidade deles fora de nós.
(...)
Defenderemos por vezes que fomos mais «nós» nuns momentos e que éramos outros e irreconhecíveis nos restantes. Se pudesse, eu diria que aquilo que somos é uma confederação de sentimentos.
Verdadeiramente, nem isso posso dizer.
"

Rui Tavares na Blitz [Agosto 2009]



Tu, sim tu, leste?
Era isto que te queria dizer. Sim, é verdade, só descobri agora, mas é mesmo isto.

Eu acredito que tu és mais do que o pequeno cabrãozinho que irrevogavelmente és; acredito que há mais dentro de ti. Eu não gostaria de ti se não fosses tão irremediavelmente incorrecto em algumas situações e tão surpreendentemente correcto noutros momentos e para com algumas pessoas em particular. Portanto, eu sei que és capaz de «fazer a coisa certa», (mesmo quando o que eu mais desejava era que fizesses a errada) e que o facto de muita gente te percepcionar como "un infidele" resulta, em grande parte, de o teres assumido como verdadeiro e incontornável há muito, demasiado, tempo. É essa a faceta que dás a conhecer ao grande público e que alegremente publicitas. Por isso dizes que contigo «não dá», que não és a pessoa indicada.
Odeio recorrer a clichés, mas neste caso particular julgo ser realmente aplicável a expressão ergueste um muro à tua volta visto que é mesmo isso que parece.
Não sei bem o que sentes, nem quem és, até porque grande parte do que sei sobre ti foi-me transmitido por terceiros. Mas, em simultâneo, parece-me que te conheço melhor do que qualquer um... Um olhar teu, muitas vezes basta-me para saber como te sentes; raro é ter conhecimento do porquê que despoletou determinado sentimento.

Eu entendo-te no silêncio.
Porém, necessito avidamente do ruído.
Sê a minha música.







Podes desafinar à vontade. Não tenhas medo.

Saturday, July 25, 2009

É Mito.

" A diferença entre homens e mulheres, no que respeita à traição, é um mito generalizado. Não corresponde em nada à verdade. Nem agora nem no passado. Um mito que apenas serviu para que as mulheres tenham de esconder com mais cuidado o que fazem e os homens tenham de se gabar mesmo do que não fazem. "


O amor é uma carta fechada - Joaquim Maria Quintino Aires



Facto: Eu não tenho pila.
Facto: Tu tens.
Facto: Eu gabo-me.
Facto: Tu escondes-te.

Seremos a excepção que confirma a regra?

Thursday, June 25, 2009

Vício de mim

Apetece-me arrancar a aorta das tuas emoções e com aquele último esguicho arterial escrever "beija-me" em tons de raiva nas paredes do teu quarto.
Apetece-me inspirar a tua vida directamente da válvula semilunar, já exausta, do teu coração corrompido. Engasgar-me com o teu sangue. Morrer contigo.

O teu silêncio faz-me mal. A tua calma enfurece-me, a tua serenidade desperta este meu incontrolável instinto assassino. Quero que desesperes, que berres, que a tua vida aparentemente perfeita se torne caótica ao ponto de te enredares em todos os vícios: álcool, jogo, tabaco, droga, eu. Sim, eu; eu que sou absinto, Ás de copas, charuto cubano e a tua mais estimada droga alucinogénia num só corpo, consumível num só acto.
Fode-me. Fode-me porque a tua vida é fodida e porque ao foder-me ainda a estás a foder mais. E claro, a seguir...fode-me outra vez.
(E que recomece o ciclo...)

O teu mal faz-me bem, o desalinhamento do teu cabelo, as tuas olheiras profundas, o teu hálito alcoolizado, e até o teu choro bêbado, me comovem e me fazem querer abraçar-te para nunca mais te largar. Mantém-te assim, triste e perdido para mim, mantém-te meu e entrelaçado nas minhas pernas. Não queiras que mais ninguém se magooe.

Monday, June 01, 2009

Situações

São momentos, mais ou menos coerentes, mais ou menos decentes, que acabam por influenciar a nossa vida, não sabemos é como e durante quanto tempo. Sabemos apenas que descortinam hipóteses e nos permitem visualizar ténues horizontes e esperanças que nunca pensamos que existissem.

São episódios que surgem contra todas as expectativas e provocam uma volta de 180º no rumo da nossa pequena existência.

São coisas que acontecem.

Que nos fazem ver o futuro de maneira diferente e que até nos podem fazer sorrir... ou chorar.

Enfim...
São situações.

Sunday, May 10, 2009

Não sei

As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir

Mariza - Chuva



Não sei como nem porquê, mas já marcaste a minha história.

Arranhaste o meu peito, desfolhaste a rosa branca e deixaste-me a rodopiar sozinha e nauseada no salão nobre dos recônditos de um coração que julguei ser o teu. Caí. O salão girava em torno dos espinhos do caule da rosa e a náusea aumentava, tornando-se insuportável, tentei ver além da luz e do brilho da falsa festa que é entregar-me a ti. Tentei ver-te, mas já não estavas lá.
Apaguei.

Acordei.
Já só restavam as carcaças imundas de uma saleta rasca, sem cor e sem adornos. Apenas a música, ah... a minha música! Estive sempre aqui. Pensei que tinha entrado na tua vida, mas foste tu que te esgueiraste sem pudor para o interior da minha, alojaste-te num local obscuro do meu coração que nem eu conheceria se não fosse o teu descaramento e encanto corriqueiro.

Já sei porquê. Já sei porque marcaste a minha história.

Saturday, April 04, 2009

Coisas pequenas...

Coisas pequenas são
coisas pequenas
são tudo o que eu te quero dar
e estas palavras são
coisas pequenas
que dizem que eu te quero amar.

Amar, amar, amar
só vale a pena
se tu quiseres confirmar
que um grande amor não é
coisa pequena
que nada é maior que amar.

E a hora
que te espreita
é só tua.
Decerto, não será
só a que resta;
a hora
que esperei a vida toda,
é esta.

E a hora
que te espreita
é derradeira.
Decerto já bateu
à tua porta.
A hora
que esperaste a vida inteira,
é agora.

Madredeus - Coisas pequenas





Eu tento. Eu espero.

Por ti, por nós,
pelo que julgo que podemos ser
tendo em conta a miragem que vivemos.

Por ser (ainda mais) feliz
contigo,
connosco.

Saturday, March 07, 2009

VERY

"With all your lies,

You're still very lovable."

Bon Iver - for Emma

És. Sem dúvida.

Com todas as parvoíces, todas as gargalhadas duvidosas, todos os sorrisos de troça e com todos os olhares de compreensão ou preocupação exageradas. Incluo também no lote as piadas que não me fazem rir, às quais sobreponho as que o fazem, os muitos abraços, beijos e outros carinhos que não me dás, aos quais sobreponho os que já me deste.

Continuas a ser.

Com todas as particularidades que me deviam ser mais ou menos indiferentes, que no entanto já não o são, porque me fazem gostar mais ou menos de ti, sendo predominante o mais (e mais, e mais, e cada vez mais...).

E, estupida, infantil e talvez infelizmente, parece-me que continuarás a ser...

Sunday, February 15, 2009

" Cheers darlin' "

What am I, darlin'?

Adorava saber, mas, simultaneamente, tenho um medo de morte da resposta!

A whisper in your ear,

Um grito cortante no teu coração,

A piece of your cake.

Uma gota de sumo de limão.

Monday, January 12, 2009

Sorri

Acordou com o barulho dos tão conhecidos passos da mãe no seu quarto, falaram brevemente porque o sono ainda lhe toldava o raciocínio, ouviu-se a porta chiar, bater e, por fim, o silêncio.
Voltou a adormecer.

Sentiu o telemóvel tremer. Adormeceu de novo.

O telefone de casa a tocar, a voz da empregada afirmava que a Sra. Dra. não estava, tinha ido para a escola...
"Ei, que horas são??" - não muito tarde...



Bocejou, olhou em redor: a luz do sol encolhia-se para passar pelas frinchas da persiana mal fechada, brilhando de exaustão quando penetrava finalmente naquele quarto desarrumado que ainda dava ares de aposentos de uma qualquer princesa sonhada durante a noite anterior. As lombadas dos livros da primeira prateleira da estante reluziam, berravam títulos, choravam e riam frases de amores impossíveis, mas consumados. Os peluches eram meros vultos, contrastando com a luz, impedindo também a sua entrada. Os colares e os brincos espalhados na cómoda reflectiam esta luz cansada, provocando brilhos de diferentes cores nas paredes alvas. A rapariga observava o espectáculo, a batalha entre a luz do sol e os vários batalhões do seu exército de objectos mais ou menos úteis.



Sentei-me na cama, rendi-me à luz e sorri.