Friday, April 21, 2006

Tanto de meu estado me acho incerto

Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
N~ua hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar ~ua hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.

Luís de Camões

Foi este o poema que escolhi para declamar na aula de Português, disseste que "estava fixe", "é bonito", "amanhã de manhã passo por tua casa para decorarmos".
E assim passamos uma manhã, a decorar um poema de Amor, a decorar uma declaração de Amor repeleta de antíteses... A escolher a melhor maneira de a lermos: a duas vozes a primeira quadra; os dois primeiros versos da segunda quadra lia eu; os dois últimos versos dessa mesma quadra lias tu; o primeiro terceto lia eu; quanto ao segundo terceto: tu lias o primeiro verso, eu o segundo verso, e finalmente, tu lias o último verso do poema.

Em frente à turma: algum engasgo mas nada de mais...
Em seguida a prof. fez perguntas e eu respondi. Tu estavas um bocado atrapalhado com a análise do poema, tinhas percebido o seu sentido... Mas tu e as figuras de estilo não têm um relacionamento muito bom!

O Amor é um sentimento antitético.

Tu e eu...

Não somos mais do que uma antítese.

Contudo... "Os opostos atraem-se."

[Hoje o encontro matinal foi dedicado à matemática e à minha má disposição na noite anterior, nada de poesia... Porém, algo de Amor...]

Wednesday, April 12, 2006

Hoje

Hoje.

Hoje foi espectacular. O meu "hoje" merece todas as palavras que eu lhe puder dar.
Palavras... podem não ser grande dádiva para muitos, mas eu adoro que me ofereçam palavras, e como este "hoje" é meu, vou-lhe dar o que bem entender, o que gosto, e o que faço de melhor (estranha coincidência...).
Este "hoje" relembrou-me o porquê de viver neste meu mundo, o porquê de ser como sou e de actuar da forma como actuo. Hoje senti-me extremamente bem comigo própria e com os que me rodeiam. Hoje senti orgulho em ser o que sou.

Porque hoje vi muitos sorrisos à minha volta e ouvi muitas gargalhadas provocadas por mim, porque me mostraram que estavam felizes por eu estar ali, que a minha presença era importante!

Hoje eu realizei-me em todos os aspectos, hoje eu experimentei novamente a sensação mais bonita e gratificante do meu mundo...

Hoje, eu não só fui, como também me senti feliz.

E não me esqueço de quem, além de mim, contribuiu tanto para que isto acontecesse... Ah, e também não me esqueço daquele rapaz tímido em pura adrenalina que queria estabelecer contacto, um romance, "não colorido, de amizade!" comigo... Não me esqueço do Paulo Fortes!

Pah, se vocês tivessem vivido o meu hoje...uiui! Mas não viveram, este hoje é só meu!!!

Monday, April 03, 2006

"Explique por palavras suas..."

Enunciados terrivéis dos testes de Português que exigiam uma resposta construída sintática e morfologicamente por cada aluno, o que implicava que nenhum dos alunos presentes naquela sala, a resolver aquele teste, utilizasse as palavras já pensadas, estudadas, suadas, talvez até choradas, pelo autor do texto analisado.
Eu concordava. Eu achava bem. Eu até gostava daqueles enunciados. Eu queria que por cima de todas as perguntas estivesse escrito a letras garrafais "EXPLIQUE POR PALAVRAS SUAS".
Mas... Podia-se verificar, que quem usava as palavras do texto também tinha a resposta certa... Não completamente certa, mas certa.
- Mas que raio?! Então a única dificuldade que este teste me oferece é a parte menos cotada?!
Parecia-me ridículo! Quase caía na tentação de fazer como os outros, começar com alguns sinónimos e depois estampar o texto sem aspas... Mas não, se eu sabia que era capaz tinha de o fazer... "Dá o máximo de ti no mínimo que fazes!" Não, não são palavras minhas. Sim, é um clichê meus caros. Mas podiam ser palavras minhas... Descrevem um pedaço da minha personalidade, alma, maneira de ser, maneira de estar, enfim, o que lhe quiserem chamar...! Os clichês só exigem uma habilidade, penso eu: Saber utilizá-los. É tudo o que pedem. É tudo o que exigem; merecer o nome de clichê e não de vulgaridade.
Continuando... Além da necessidade primeira de obedecer à minha regra, devo dizer que também cedia um pouco à minha necessidade, mais que primeira, de alimentação do meu ego.

Agora, enfrentando a verdade (ou vendo a situação por outro ponto de vista, o que preferirem...), modificar as palavras do autor não seria um ultraje para o sentido único, que uma única frase ou expressão, dita por uma única pessoa (ou pessoa única), num certo e determinado momento, obtem a muito custo (suor e lágrimas) ?
Os sinónimos não são bem sinónimos... Palavras que transmitem ideias próximas, talvez. Palavras com o mesmo sentido, nunca!

Basta mudar a pessoa que diz cada palavra...

É uma grande virtude sabermo-nos exprimir pelas nossas palavras, mais do que para refazer textos ou explicar ideias de algum escritor enterrado comido por vermes, é uma grande virtude para criarmos os nossos textos, ideias, conversas, palestras...

Para criarmos a nossa vida...

Para tentarmos explicar o que sentimos a alguém que nunca vai compreender, ou que prefere fingir que não compreende.

Para que possamos chover numa folha de papel...