Friday, August 07, 2009

Ruidosamente tua.

"(...) Muitas pessoas falam sobre a sua personalidade em termos inequívocos e delimitadores: «eu sou muito assim ou assado». Eu sou franco; eu sou sincero; eu sou introvertido ou extrovertido. Não se calam com isto.
Já ouvi alguém dizer «eu sou a pessoa mais humilde do mundo», o que me coloca duas questões. A primeira é saber se uma pessoa verdadeiramente humilde poderia sequer descrever-se como humilde. A segunda questão invalida até, de certo modo, a primeira: é saber se alguém - qualquer pessoa - pode ser «verdadeiramente» humilde - ou outra coisa qualquer.
Verdadeiramente, a questão é saber se alguém pode ser «verdadeiramente» alguma coisa apenas.
(...)
Não há ninguém, julgo eu, que nunca tenha ouvido isto. «estou à procura daquilo que verdadeiramente quero». Esta frase toma como ponto de partida que existe algo que eu quero mas que ainda não sei o que é. Que esse algo pode - e deve - ser encontrado. E sugere que esse algo está numa localização precisa, um qualquer algures, provavelmente dentro de mim, e certamente à espera de ser encontrado.
Nunca partimos de outro princípio, que manifestamente é também possível: o de que não sabemos o que verdadeiramente queremos porque talvez não queiramos verdadeiramente algo; o de que se esse algo existisse já o saberíamos perfeitamente desde o começo; que procurar esse algo é talvez tão inútil como esperar que ele chegue por acaso até nós; que ao invés de existir esse algo dentro de nós existe antes uma multiplicidade deles fora de nós.
(...)
Defenderemos por vezes que fomos mais «nós» nuns momentos e que éramos outros e irreconhecíveis nos restantes. Se pudesse, eu diria que aquilo que somos é uma confederação de sentimentos.
Verdadeiramente, nem isso posso dizer.
"

Rui Tavares na Blitz [Agosto 2009]



Tu, sim tu, leste?
Era isto que te queria dizer. Sim, é verdade, só descobri agora, mas é mesmo isto.

Eu acredito que tu és mais do que o pequeno cabrãozinho que irrevogavelmente és; acredito que há mais dentro de ti. Eu não gostaria de ti se não fosses tão irremediavelmente incorrecto em algumas situações e tão surpreendentemente correcto noutros momentos e para com algumas pessoas em particular. Portanto, eu sei que és capaz de «fazer a coisa certa», (mesmo quando o que eu mais desejava era que fizesses a errada) e que o facto de muita gente te percepcionar como "un infidele" resulta, em grande parte, de o teres assumido como verdadeiro e incontornável há muito, demasiado, tempo. É essa a faceta que dás a conhecer ao grande público e que alegremente publicitas. Por isso dizes que contigo «não dá», que não és a pessoa indicada.
Odeio recorrer a clichés, mas neste caso particular julgo ser realmente aplicável a expressão ergueste um muro à tua volta visto que é mesmo isso que parece.
Não sei bem o que sentes, nem quem és, até porque grande parte do que sei sobre ti foi-me transmitido por terceiros. Mas, em simultâneo, parece-me que te conheço melhor do que qualquer um... Um olhar teu, muitas vezes basta-me para saber como te sentes; raro é ter conhecimento do porquê que despoletou determinado sentimento.

Eu entendo-te no silêncio.
Porém, necessito avidamente do ruído.
Sê a minha música.







Podes desafinar à vontade. Não tenhas medo.

No comments: