Friday, December 28, 2012

X, Y e Z

Indiscutivelmente os anos da parvoíce adolescente, devida e perdoada pelas alterações hormonais, já se foram. O drama gratuito ainda tende a aparecer, mas, em boa verdade, já não pertence aos nossos dias.
Cá estamos. Crescidos. Bela merda.

Agora é tudo muito mais tudo. Muito mais concreto, muito mais sério, muito menos mutável.
Quando dói, dói mesmo; quando se deseja, Deseja-se. Sem fogo de artifício, sem ornatos, sem tretas. Demasiadas pessoas à nossa volta começam a saber demasiado bem o que é sofrer e não tarda saberemos nós também.

Sente-se o dever de fazer X, de agir da forma Y, pois é mais adequada , de não dizer Z, já que pode ser mal interpretado.

Repete-se "carpe diem", "liberdade pra dentro da cabeça", dança-se em supermercados e ri-se no meio da rua, bebe-se até cair, beija-se porque se Quer. E ainda bem. Porque ainda somos jovens e porque já não o somos durante muito mais tempo. E o melhor é que aproveitemos.

Sunday, December 02, 2012

Oliver Tate

"I find that the only way to get through life is to picture myself in an entirely disconnected reality."

Wednesday, November 14, 2012

Lontras

Hoje é isto que tenho a dizer:



:)

Saturday, November 03, 2012

Difícil

Por vezes, por mais ridículo que seja, a melhor maneira de nos exprimirmos é mesmo através de uma consulta ao dicionário:

Difícil
adj. 2 g. 
1. Não fácil. 
2. Custoso; complicado; espinhoso. 
3. Arriscado. 
4. Exigente. 
5. Mau. 
6. Pouco provável.

Posto isto, esta atitude foi-me extremamente difícil de tomar e é-me extremamente difícil de manter. Espinhos, exigências e malefícios incluídos.

 
É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?

Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma

Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo.


É fácil, é difícil - Fernando Pessoa 

 

Sunday, October 21, 2012

Deixa

Confusão. Foi tudo uma enorme, e dolorosa, confusão. Entrei desastrosamente numa história que não era a minha, nunca foi, nem irá ser, e fui-me enterrando cada vez mais, por haver algo que me atraía (atrai), que me inspirava a ver um futuro resolvido e risonho.
Há uns dias, despertei. Um acordar cortante, aflito, uma seringa de adrenalina espetada em cheio no peito de uma drogada em estupor, ridícula. Parva. No entanto, o que interessa é que acordei e agora tenho uma oportunidade de, peço perdão aos que não concordam com o método, racionalizar as coisas. Adoro racionalizar. Ver a situação de cima, feita ave de rapina, alma descarnada que sobrevoa a merda que escorre e decorre sobre o solo. E a razão diz-me, repetidamente de modo a prevenir recorrências, que me afaste, que deixe morrer.


Se eu não for capaz
Eu espero vê-lo em ti
Eis como me ajudar
Sentir não é mostrar
E dar não é sentir
É morrer em paz

Ornatos Violeta - Deixa morrer



Tuesday, September 25, 2012

Bela



Com alegria fico louca
E acaso te beijei um dia
Foi um beijo que me escapou da boca
E andou a noite toda a fazer o que eu não queria


Agora danço arrependida
Um passo em frente dois atrás
E quanto mais me rodopias
Menos culpo a alegria da tristeza que me faz


Há dias que não são dias - Deolinda

Como é que era, mesmo?
Ah.
Bela merda.

Thursday, September 06, 2012

Longe



Foder é perto de te amar se eu não ficar perto.

Ainda sim, é demasiado longe.
Quilómetros e quilómetros de novelo de vida desenrolado separadamente. Estradas sem cruzamentos, pelo menos até certa altura, altura essa inapropriada. Nada em comum, excepto luxúria e vício. Excepto suor, corpo, alcoól, música e cor. Excepto tudo o que interessa.

Quem és tu, afinal? O que queres de mim e o que raio é que eu quero de ti?

Pois, demasiado tarde, demasiado longe. 



Tuesday, August 28, 2012

Aniversário

A família com a qual crescemos e convivemos diariamente é com certeza um dos alicerces mais importantes da nossa identidade. A personalidade de cada indivíduo molda-se de acordo com o contexto que o insere, qualidades e defeitos surgem assim muito à imagem e semelhança dos parentes mais próximos, dos cuidadores directos.
Foda-se.
Só de pensar que partilho alguma característica com determinado familiar... Dá-me a volta às entranhas.
É possivelmente o pior sentimento que já experienciei, ter plena noção de que não gosto, nem um bocadinho, de alguém que, bem ou mal, me ajudou a criar. Um misto de desagrado, culpa e nojo, de mim e da pessoa em causa.
Há dias particularmente difíceis, ao longo dos quais este não-gostar e esta culpa assumem papéis preponderantes.
Como o de hoje.
Parabéns.

Wednesday, August 15, 2012

Keep moving



Um dia este dilema vai desaparecer.
Hoje não é, definitivamente, o dia.

Wednesday, August 08, 2012

Censura

Os olhos param em ti e em mim, enquanto preenchemos o espaço vazio, impossível de preencher por alguém que não nós. Não pedimos o fim, mas não nos importamos se acabar assim.

Linda Martini - Amor é não haver polícia

Não temos outra hipótese que não acabar assim (isto se pensarmos que há alguma coisa para acabar, parece-me, pelo menos, que houve qualquer coisa que começou) e o lado positivo é que, realmente, não houve polícia capaz de nos apanhar, somos os mestres do crime, Bonnie and Clyde em fuga, sem censura e sem pesar.
Mas custa um bocadinho, sabes? mói um bocadinho... É mais um "e se?", raisparta!
Concluindo, foi bom, não haja dúvida que foi bom.








Buon viaggio!

Tuesday, June 26, 2012

Desequilíbrios

Toda e qualquer comunidade possui uma dinâmica específica e delicada, regindo-se por valores, e até por pequenos preconceitos, muito gerais, cuja presença nem sempre notamos ou valorizamos... Mas é certo que, de modo a manter a união e a estabilidade, a comunidade, o grupo, necessita de tais linhas orientadoras, pois sem elas surgem alguns problemas, enfim, alguns desequilíbrios.
A manutenção saudável das relações, a paciência, a resignação e, claro, talvez um pouco de censura em determinadas situações, são essenciais. Porque, no fundo, toda a gente sabe de tudo, todos comprendemos as dificuldades e fraquezas, todos podemos e devemos ser sinceros sem impedimentos de maior, porque todos somos amigos. No entanto, o drama não me parece necessário, na realidade só me parece prejudicial, e pensar antes de falar, conversar de cabeça fria, não faz de ninguém menos honesto, apenas mais sensato.
Talvez seja mais complicado falar sobre determinados assuntos em diferido e com calma, talvez sintamos vergonha, talvez gaguejemos e tenhamos uma imensa dificuldade em encontrar as palavras certas... Sim, decerto que a eloquência natural das adversidades torna mais fluente o discurso "a quente", o vómito de palavras inconsequentes. E é também certo que a maioria das vezes nos arrependemos de metade do que dizemos.
Resumindo, sinto que há uma comunidade em risco, um pequeno mundo em desequilíbrio, um pequeno mundo que eu muito estimo... O meu. Não por falta de amor, não por falta de respeito, apenas por diálogos e monólogos menos próprios, que, no fundo, nada resolvem, nada acrescentam. Peço-nos que nunca esqueçamos o quanto nos gostamos, porque ainda que não me afecte directamente, no sentido tradicional do termo, afecta-nos a todos. Nós somos melhores, maiores, do que qualquer obstáculo. Nós somos nós.


Thursday, June 21, 2012

Acostumar(-me)




Posso até me acostumar
E deixar você fugir
Posso até me acostumar
Da gente se divertir


Dava tudo por amor
Eu vim de longe
Dava pra sentir
Você dançando só pra mim


Parece brincadeira
Mas eu sei que a gente faz
Um monte de besteira
Por saber que é bom demais


Marcelo Camelo - Acostumar

Não estou a conseguir escrever. Pensei que era desta...
Hum...
Soterrar a vontade não é fácil.
Há coisas que racionalmente não podem Ser, mas não tentar que elas Sejam, é-me difícil.
Não obtenho aquela confirmação irrevogável, permaneço no e se? e, acho que sabem, não gosto de se's. 
Hum...
Bela merda.

Saturday, May 26, 2012

Néon

Mais uma vez se confirma: Eu sou uma senhora. Independentemente da merda que me rodeia, (e das pequenas merdinhas que vou concretizando, sentindo, ignorando, sofrendo) eu sou uma senhora.
A esta hora é tudo o que tenho a dizer, amanhã talvez haja mais.

Tuesday, May 01, 2012

Dá-me a tua mão

Anda cá meu sonho (dá-me a tua mão)
Se tirares eu ponho (dá-me a tua mão)
Vem deixar-me rouco
A pouco e pouco
Semear um hino
Sou o teu menino
Dá-me a tua mão (Dá-me a tua mão)

Diabo na Cruz - Canção do Monte




"Vamos indo e vamos vendo."

Friday, April 06, 2012

Carpe diem

"Lulu, o que é pensar?
Pensar é o que a minha cabeça me diz em silêncio."

A sabedoria de quem há pouco tempo consegue andar equilibrado sobre as duas pernas nunca deixa de me surpreender. A simplicidade. Acho que pensar já foi para mim, em tempos, silencioso. Neste momento, é uma gritaria absoluta. Partes de um eu estupidamente, incontroladamente, fragmentado discutem em histeria completa e escrevem a ritmos diferentes capítulos distintos de uma vida que deveria ser minha. Num enredo dissimulado, porções de mim adulteram-se mutuamente, pervertendo objectivos, forçando o encerramento de caminhos que ainda agora se ergueram.
É-me difícil ignorar assuntos que ficam por esclarecer, é-me extremamente difícil acabar capítulos sem retirar qualquer conclusão. A falta de plenitude corrói-me por dentro. Não gosto disto.
Não gosto, porque parece que não posso viver, experimentar, aproveitar por circunstâncias alheias que me são impostas por um código moral com o qual não concordo, mas que tenho medo de desobedecer. O mundo em que vivo moldou-me de um modo assustador, impingiu-me concepções do certo e do errado com as quais não consigo lutar. Ainda que me julgue exímia a fazer o que quero em detrimento do que devo em situações-chave isoladas no tempo, não deixo de ser tocada pela culpa, mesmo que quando analisada a situação, tal sentimento não seja aplicável racionalmente. E mais, tenho plena consciência de que é precisamente este sentimento, tão típico e lusitano, que me leva a estagnar os tais capítulos antagónicos da minha vida. Se tivesse nascido num país verdadeiramente laico, provavelmente até era capaz de continuar a escrever alegremente ambos em simultâneo, sem qualquer tipo de conflito interior!


Nos entretantos, surgem sentimentos parvos e incomodativos que tento, mais uma vez, enterrar debaixo de todos os outros... Porque não me sentia tão exposta, por simples palavras embriagadas, há muito, muito tempo, e porque é frustrante que existam elogios que nos perturbem tanto.

Monday, March 05, 2012

splash

Penélope Almeida...
A meter a pata na poça desde 1990.

Friday, March 02, 2012

É só mais um dia mau.

"Eu sei
A tua vida foi
Marcada pela dor de não saber aonde dói
Mas vê bem
Não houve à luz do dia
Quem não tenha provado
O travo amargo da melancolia"

Sei que algures entre as publicações dos últimos tempos já consta uma referência a esta música, a esta letra. Mas hoje, hoje, não podia deixar de partilhá-la novamente. Estou completamente à deriva, é ridículo o modo como uma simples questão pode transformar o nosso humor, levando-nos a interrogar todo um caminho, uma ambição, uma espécie de decisão.

Isto passa.

Monday, February 06, 2012

Imutações

Os anos sucedem-se, os contextos alteram-se, traçamos um percurso, tantas vezes tortuoso, tantas vezes inesperado. As rotinas destroem-se e erguem-se novamente, num contínuo sem forma concreta, um quotidiano sempre em mutação, originando o que chamamos de vida, a nossa vida.

Houve tempos em que tive medo da mudança e, quando ela chegou, afundei-me com ela. Depois, só queria que ela voltasse, e ela, fiel, voltou, e eu então emergi.
Agora lido bastante bem com essa ora-menina-ora-mulher, recebo-a com agrado, ainda que nem sempre a compreenda e às suas motivações. Mas desta vez, desta particular vez, acolho-a ternamente, entendo-a por inteiro - tem um mote muito concreto e agreste: crescer.

Crescer envolve aceitar os nossos alicerces - incluindo antepassados, conjunturas e  traços de personalidade -, pois estes têm ampla participação na nossa definição, ainda que nem todos nos agradem particularmente. Também envolvida neste processo, a tolerância para com o próximo (e quiçá o próprio) aumenta gradualmente, até que um belo dia reparamos que face a uma determinada pessoa, acontecimento ou atitude, que previamente nos provocava repulsa ou impaciência, hoje sorrimos. Sorrimos porque já não interessa, porque compreendemos, porque os defeitos com o tempo se tornam características e estas, principalmente as mais típicas e invulgares, distinguem-nos, aproximam-nos, unem-nos.

E então, entre tantas mudanças mais ou menos notórias, eis que encontramos um certo conforto nas coisas que não mudam. Casas imutáveis, cujos móveis, quadros, bibelôs permanecem estagnados no tempo. Pode mesmo tratar-se de uma certa casa-de-banho, com um espelho redondo de moldura cor-de-rosa (que em tempos reflectiu o rosto de uma menina desdentada de totós, mas agora está demasiado baixo, e a mulher que o contempla tem que se inclinar para poder observar esse mesmo rosto), um secador de cabelo de cabo vermelho e corpo metálico, prateleiras brancas repletas de cremes, perfumes e batons.
Locais que a espiral dos dias não tocou, pequenos santuários que nos alertam, subitamente, para o quão nós mudamos face à sua imutabilidade.