Friday, May 09, 2008

Vapor

Entraste sem pedir, sem dizer nada a ninguém. Não tinhas nenhuma justificação ou objectivo... Simplesmente entraste. Não posso dizer que tenha sido de rompante, porque na realidade foi uma entrada súbtil, nada triunfal e sem grande aparato.

Mas depois... Depois, ficaste. Sentaste-te no colo do meu rio e viste o que havia por trás dos meus olhos. Flutuaste no sal do que sou, no sangue do que fui e, ao chegar à foz, abandonarás o vapor do que serei.

E assim vamos escrevendo a nossa história, o nosso conto erótico de corações entrelaçados e de mãos escorregadias. Caminhando juntos, ora um calcando o outro, ora outro calcando o um - raras vezes lado a lado - afundando os pés na areia de palavras omitidas e inibidas, mas também de mar e de beijos salgados. (Lembras-te?)

Na tijoleira fria das emoções deixamos aquecer o que sentíamos até ao ponto de fusão do açúcar. Açúcar que se transformou em caramelo. Caramelo doce e enjoativo, tão peganhento que não te deixa sair desta praia com as costas e a cabeça erguidas.
Mas, eventualmente, hás-de conseguir sair, rastejando e rebaixando o que foste, mostrando finalmente o que és.

Agora, uma coisa te garanto: hás-de sair tão sujo e envolvido por todo esse sal açucarado, que nunca mais conseguirás tirar esse gosto da pele, da boca, da alma.
E, quando saíres, eu então serei vapor...



Vapor de açúcar para sempre misturado no ar que respiras.