Monday, March 25, 2013

Chico e a sua actualidade...



"Muito bem, Jazão. Você é... poeta, perigoso, porque de repente está dando as palavras a intenção que interessa a você. Só que essa ansiedade, que você diz, não é coisa minha não. É do infeliz do teu povo, ele sim que anda aos prantos pendurado na quina dos barrancos. Seu povo que é urgente, força cega, coração aos pulos, pois carrega um vulcão amarrado pelo umbigo, ele então não tem tempo, nem amigo, e nem futuro, que uma simples piada pode dar em risada ou punhalada, como uma mesma garrafa de cachaça acaba em carnaval ou em desgraça. É seu povo que vive de repente porque não sabe o que vem pela frente então ele costura fantasia, sai fazendo fé na loteria, se apinhando, se esguelando no estádio, bebendo do gargalo, pondo no rádio sua própria tragédia a todo volume, morrendo por amor e por ciúme, matando por um maço de cigarro, e se atirando debaixo do carro. Se você não aguenta essa barra tem mais é que se mandar, se agarra na barra do manto do poderoso crionte e fica lá em pleno gozo de sossego, dinheiro, e posição com aquela mulherzinha.
Mas Jazão, já lhe digo o que vai acontecer, tem uma coisa que você vai perder que é a ligação que você tem com a sua gente, o cheiro dela, o cheiro da rua. Você pode dar banquete Jazão, mas samba é que você não faz mais não, não faz... e é ai é que você se atocha, porque vai tentar, e sai samba ruim.
Essa é a minha maldição, gota d’água nunca mais seu Jazão! Samba? Aqui oh... Nunca ! Você não engana ninguém, nunca!! Gota d’água?! NUNCA MAIS!
Vai! Vai ! Vai atrás dela vai ! Corre, não é essa a sua grande ambição? Depressa! Bebe, come, lambe, goza...  Mas, se quem faz justiça nesse mundo me escutar, esse casamento imundo não vai haver não, por falta de esposa."

Saturday, March 23, 2013

Laços

Não me assusta a chuva. Os trovões. As poças de água. A distância. Os bloqueios fermentados do ontem. Não me assusta o teu medo. O teu receio. Não me assusta o tempo que possa demorar até sentir o abraço em pleno. A divisão do beijo. A reminiscência do teu corpo no encontro do meu. A inquietação da incerteza que paira por nós. Porque eu sinto. Eu divago. Eu quero. E por querer persisto e procuro. Avanço com os olhos abertos. Mesmo que por momentos, pare. Olhe novamente. E dê o passo. Mesmo que nos limites do que sou, exista a impaciência. O querer já. O querer agora. O querer tudo. Mas neste caminho eu aguardo. Por acreditar. Que é possível. Que nada nos impossibilita de lá chegar. E continuo. Sem medo do estilhaço. Sem medo do que possa acontecer.
Cláudia Saraiva de Freitas, 2009.
 
 
Há coisas que vão permanecendo intactas, apesar da distância e do tempo. Uma delas somos nós, prima. Estados de espírito em sintonia. 
É o karma.