"Muito bem, Jazão. Você é... poeta,
perigoso, porque de repente está dando as palavras a intenção que
interessa a você. Só que essa ansiedade, que você diz, não é coisa minha
não. É do infeliz do teu povo, ele sim que anda aos prantos pendurado na
quina dos barrancos. Seu povo que é urgente, força cega, coração aos
pulos, pois carrega um vulcão amarrado pelo umbigo, ele então não tem
tempo, nem amigo, e nem futuro, que uma simples piada pode dar em risada
ou punhalada, como uma mesma garrafa de cachaça acaba em carnaval ou em
desgraça. É seu povo que vive de repente porque não sabe o que vem pela
frente então ele costura fantasia, sai fazendo fé na loteria, se
apinhando, se esguelando no estádio, bebendo do gargalo, pondo no rádio
sua própria tragédia a todo volume, morrendo por amor e por ciúme,
matando por um maço de cigarro, e se atirando debaixo do carro. Se você
não aguenta essa barra tem mais é que se mandar, se agarra na barra do
manto do poderoso crionte e fica lá em pleno gozo de sossego, dinheiro, e
posição com aquela mulherzinha.
Mas Jazão, já lhe digo o que vai
acontecer, tem uma coisa que você vai perder que é a ligação que você tem
com a sua gente, o cheiro dela, o cheiro da rua. Você pode dar banquete
Jazão, mas samba é que você não faz mais não, não faz... e é ai é que
você se atocha, porque vai tentar, e sai samba ruim.
Essa é a minha
maldição, gota d’água nunca mais seu Jazão! Samba? Aqui oh... Nunca !
Você não engana ninguém, nunca!! Gota d’água?! NUNCA MAIS!
Vai! Vai ! Vai atrás dela vai ! Corre, não é essa a
sua grande ambição? Depressa! Bebe, come, lambe, goza... Mas, se quem
faz justiça nesse mundo me escutar, esse casamento imundo não vai haver
não, por falta de esposa."