Sunday, March 30, 2014

Regresso ao futuro

Este comboio não volta a parar. Ultrapassadas todas as estações e apeadeiros, seguimos agora, a alta velocidade, até ao destino final. Olhas pela janela e ainda identificas, muito ao longe, um bando de t-shirts amarelas. Parece-te que vês o Douro, semicerras os olhos: sim é a D. Luís, sem dúvida. E aquilo? Ah, claro, taínhas. Vão aparecendo e desaparecendo vultos trajados, pandeiretas repletas de fitas coloridas; assustada, olhas para o lado: o contrabaixo continua a teus pés, ufa!
A última estação, ainda perfeitamente nítida, está coberta de neve. Um grupo de estranhos brinda com copos que fumegam. Na zdraví! Queres voltar. Queres um último trago de Bernard Jantarovy. O revisor interrompe bruscamente o teu divagar, confirmando com austeridade o que já sabias: não há mais paragens e esta viagem faz-se num único sentido, sem retorno.
Olhas em redor, os teus companheiros de jornada estudam, desanimados, uma espécie qualquer de livros fotocopiados. Sublinham continuamente e suspiram amiúde. Também tu tens esses livros no colo. Pesam com'ó raio! De vez em quando, alguém resolve sacar de uma guitarra. Todos riem, cantam, conversam... E voltam a abrir os livros.
Observas-te no reflexo do vidro da janela empoeirada, pareces cansada, tens umas olheiras profundas, um sorriso triste. A melancolia apodera-se de ti, as lágrimas toldam-te a visão... Mas sabes que tem que ser. E o que tem que ser tem muita força.

1 comment:

Anonymous said...

pretty nice blog, following :)