Monday, June 03, 2013

10 - Parte 2

Vamos agora ao cerne da questão:

Não és tu. És tu, mas não és tu. É o que representas. Aquilo que nunca vou ter, que simplesmente não me está destinado. Alguém tão especial, tão culto, tão parvo, tão perfeitamente imperfeito, tão difícil, tão boa pessoa, - de tal modo, que nos faz olhar para dentro, em busca do local recôndito onde andará essa bondade perdida - tão bonito, tão tu, tão longe do que eu mereço.

E é isso que dói, como um punhal que rasga e gira sobre si mesmo, esfarrapando o centro do corpo medíocre do eu-real. Essa consciência plena e maquiavélica de que nada nem ninguém ASSIM irá surgir, porque simplesmente não sou especial, culta, parva, perfeitamente imperfeita, ... que chegue.

A tirania da auto-percepção abate-se sobre mim de tal modo que sufoco. Esvoaça em torno do que sou, feita fantasma nado-morto do que queria ser.
Tantos planos, desejos, ideais por cumprir, tão aquém dos objectivos que fui traçando. Tão perdida, tão errónea. Gretel dos maus caminhos, deixo para trás estilhaços de vidas que piorei.
A tua, inclusivé - novo sufoco. Odeio não conseguir ser o porto de abrigo que precisas, mas apenas mais uma tempestade vinda inesperadamente do Sul. De onde havia de vir bonança, vem disfuncionalidade.
Nem a ti, amigo que tanto estimo e que tanto queria proteger, me foi possível deixar do lado de fora das malhas do drama e da luxúria que teço e desfaço.

Desculpa, desculpa, desculpa, por nem contigo me portar à altura.

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