Thursday, September 11, 2008

Regras da Sensatez

A porta fechou-se com um leve estalido, comum quando a madeira incha devido à humidade, depois disso... O silêncio. Um silêncio total e absoluto, incomodativo, como tudo o que é total e absoluto, um silêncio que me empapava a pele e os sentidos, escorrendo com dificuldade por cada milímetro do meu corpo.
A partir daquele vulgaríssimo dia de meio-sol não voltei à porta daquele primeiro andar. Até hoje. Hoje abri sem dificuldades uma porta principal nova e envernizada, percorri um corredor fresco e caiado, seguido de um lanço de escadas recentemente lavadas e parei em frente ao tal apartamento. O da porta, o do silêncio.
Então, chorei. Chorei tudo o que não tinha chorado na altura certa de chorar, o que revestiu o meu choro de um ridículo inegável e humilhante. Mas, enfim, não houve nada a fazer.
Subi mais um lanço de escadas, outra porta, o cheiro a fritos e a biscoitos do segundo andar do prédio da minha infância.

"Olá! Desculpem o atraso! Foi do trânsito, sabem, é sempre a mesma coisa a esta hora. Então, está tudo bem?"

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